O LADO BOM DAS CRISES
As esperanças que temos nascem menos desses números de nossa economia no terceiro trimestre e muito mais do conjunto de providências adotadas pelo governo. As desonerações tributárias das folhas de pessoal, a redução recorde das taxas de juros e a mais recente de todas, a redução importante na conta da energia. No caso da indústria, uma redução que pode alcançar um terço da conta atual de energia. A esse pacote de estímulos é preciso adicionar as restrições criadas para posicionar as importações em patamares mais aceitáveis.
Esse elenco de providências deve cumprir seu papel estimulante, especialmente porque o discurso da equipe econômica permite alimentar a hipótese de que estamos criando uma nova e permanente política econômica, encerrando de vez as intervenções episódicas, remédios temporários para surtos de depressão econômica.
É interessante notar como o impacto das crises internacionais, além de mostrar as óbvias interdependências da economia globalizada, impõe maior racionalidade à nossa economia. Quase uma reforma, se pensamos no tempo que convivemos com taxas de juros “selvagens”, folhas de pessoal engessadas, custos de energia incompatíveis com a matriz energética fundada na mais barata das formas de geração.
A crise de 2008 serviu para evidenciar a força do mercado interno, a proteção que transformou a crise em marola administrável. Agora, o segundo turno da crise afeta gravemente a zona do euro e, somado à ainda fraca recuperação do mercado norte-americano, obriga nossas equipes econômicas a implantar medidas que o País exige há muito tempo, ou seja, um ataque frontal ao “custo Brasil”, do qual os impostos pendurados nas tarifas de energia elétrica são um exemplo eloquente, mas não único.
A pergunta que fica, portanto, é por que precisamos de crises internacionais para fazer o que sempre soubemos que devíamos fazer?
Revista NEI
Alipio Amaral Ferreira